24 de julho de 2008

Organizar a cadeia produtiva é o desafio para a mamona



 

O Brasil dominou a tecnologia de produção, tem uma das maiores áreas plantadas e chances de se tornar o maior fornecedor de mamona do planeta. A planta é produtora de matéria-prima para um dos mais nobres e versáteis óleos da indústria e tem potencial para se tornar um dos pilares da matriz agro-energética. Para a Embrapa, que há 22 anos desenvolve estudos, não restam dúvidas sobre a viabilidade da mamona. O desafio será organizar a cadeia produtiva, para aproveitar as oportunidades da conjuntura favorável. Este e outros temas serão tratados no III Congresso Brasileiro de Mamona que a Embrapa e o Governo da Bahia/ Seagri realizarão em Salvador entre os dias 04 e 07 de agosto.

A expectativa dos organizadores é de que o evento, cujo tema é “Energia e Ricinoquímica” reúna em torno de mil participantes no Bahia Othon Palace Hotel.

Com uma área plantada de 154 mil hectares, o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking mundial, precedido pela Índia, que tem 850 mil hectares e logo atrás da China, detentora de uma área de 150 mil hectares. Para o Chefe Geral da Embrapa Algodão, Napoleão Beltrão, as chances de o Brasil se firmar como maior produtor mundial de mamona crescem a cada ano.

“A China e a Índia tendem a diminuir suas áreas pela necessidade urgente de produzir mais alimentos e pela rápida expansão urbana, que avança sobre as plantações. Isso abre grandes possibilidades para o Brasil, que tem clima e solos propícios para o cultivo sustentável desta euforbiácea”, afirma. Ele acrescenta que a maior aptidão para tanto se encontra no Nordeste brasileiro, que tem cerca de 4 milhões de hectares  com condições de plantio da mamona, com  80% de probabilidade de sucesso, no Zoneamento de Risco Climático do MAPA .

O grande desafio para a viabilidade da mamona, segundo Beltrão, é organizar a cadeia produtiva. “Será preciso uma mudança cultural. Estamos falando de cerca de 120 mil produtores familiares que precisam aprender a atuar na economia de mercado. A Embrapa já dominou a tecnologia, mas os governos têm de participar desse processo, ajudando na capacitação dos produtores e no fortalecimento da cadeia produtiva”, diz o chefe-geral da Embrapa Algodão, que ministrará a palestra “A mamona no Brasil e no Mundo”, durante o III Congresso Brasileiro de Mamona.

Zoneamento

Dentro do Brasil, segundo a Embrapa, o Nordeste é a região que pode tirar mais proveito da nova conjuntura para a oleaginosa. O Nordeste tem aproximadamente quatro milhões de hectares com o Zoneamento de Risco Climático para a mamona, nos quais estão localizados 180 municípios baianos. A Bahia representa 85% da produção de mamona do Brasil, e Ceará, Piauí e o Norte de Minas Gerais dividem os 15% restantes.

“Se plantar na área zoneada, no tempo certo e com as variedades recomendadas pela Embrapa ou de outras entidades, desde que dentro das recomendações do MAPA e registro no Cadastro de Cultivares, as chances de sucesso são de 80%”, atesta Napoleão Beltrão. Ele explica que os custos de produção são da ordem de R$600 por hectare no primeiro ano. Como a cultura pode se perenizar por até três anos, dependendo da cultivar e do ambiente, esse valor se dilui nas safras seguintes. Já a remuneração média é de R$0,80 por quilo, a depender da época. O consórcio, em especial com o feijão, que é realizado pela maioria dos produtores, representa uma renda adicional.

“O mercado de mamona tem muitos produtores e poucos compradores, o que faz com que estes últimos ditem os preços. Se a cadeia estiver organizada, esse problema tende a diminuir, e só o Programa Nacional do Biodiesel tem capacidade de absorver toda a produção”, afirma.

A mamona no Brasil

A mamona, planta originária da Etiópia, chegou ao Brasil à época do descobrimento. Na colônia, era usada na lubrificação das engrenagens dos engenhos, dos carros-de-bois, e, como até hoje, na obtenção do “ponto” da rapadura. Em 1936, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) deu início aos trabalhos de melhoramento genéticos que resultaram hoje, principalmente, nas variedades comerciais IAC38, IAC80, IAC226, IAC Campinas, IAC Guarani, dentre outras.

Há cerca de 22 anos, a Embrapa Algodão, juntamente com diversos parceiros, dentre os quais a Empresa Baiana de Tecnologia Agrícola (EBDA), vem trabalhando com a mamona e já desenvolveu três cultivares, a BRS Nordestina, a BRS Paraguaçu e a BRS Energia, mais recentemente.  Além disso a Embrapa  desenvolve passos tecnológicos que compõem os diversos sistemas de produção para a região Nordeste, tanto de plantio isolado, quanto consorciado com amendoim, gergelim, feijão e outras culturas.

III Congresso Brasileiro de Mamona
04 a 07 de agosto de 2008 – Salvador-BAEnvio de Trabalhos: cbm@cnpa.embrapa.br

Informações: www.cnpa.embrapa.br/cbm
Catarina Guedes –
Assessora de Comunicação