7 de outubro de 2009
Produção de carne suína demonstra recuperação
O setor de carne suína apresenta bom ritmo de recuperação no mercado externo após a crise sofrida em 2005, quando foram identificados focos de febre aftosa no País, que provocou forte queda nas exportações do setor. Apesar de problemas pontuais, como a queda de demanda dos importadores devido à crise financeira de 2008 e a errônea designação da gripe A H1N1 como “gripe suína”, que levou os consumidores a questionarem eventual possibilidade de contágio por meio da carne suína, o macro cenário da cadeia é positivo.
O principal fator para essa curva ascendente é o aumento da criação tecnificada. A indústria faz uso das mais modernas tecnologias e, por meio de parcerias, fornece essas tecnologias aos produtores na modalidade de integração.
Dessa forma, a cadeia se aprimora rapidamente e concorre, em igualdade de condições, com os melhores produtores do mundo. Novas tecnologias na área de melhoramento genético, biotecnologia, sanidade, nutrição e biossegurança, entre outros, são responsáveis pelo crescimento do rebanho e melhora de produtividade, fazendo com que a qualidade da carne brasileira coloque o País em condições de conquistar novos mercados.
O principal importador de carne suína brasileira é a Rússia, com 45% do total das aquisições externas, seguida por Hong Kong, com 18%, Ucrânia, com 9%, Singapura e Argentina, com 5% cada. A Rússia chegou a ser responsável por 80% das importações de carne suína do Brasil, mas houve uma queda abrupta depois do estabelecimento de cotas de importação.
Observou-se, também, nos últimos três anos, o aumento de 33% no preço médio da carne brasileira devido à mudança de perfil da carne exportada, que saiu de uma predominância de meias carcaças para a maior participação de cortes nobres, agregando valor ao produto. Mas, cerca de 80% da produção ainda abastecem o mercado interno, com 3,1 milhões de toneladas produzidas.
O consumo per capita no Brasil é bastante baixo se comparado a outros países. O brasileiro consome, em média, 13 quilos de carne suína por ano, enquanto os austríacos consomem 73,1 quilos, os espanhóis 67,4, os alemães 66,4, os dinamarqueses 64,7 e os italianos 42,9. Tais dados demonstram claramente o grande potencial de crescimento do consumo de carne suína no mercado interno.
Além de enfrentar a concorrência de carnes de menor valor, como a de frango e a bovina, pesquisa recente verificou que a população ainda demonstra receio quanto a eventuais malefícios que a carne suína, com alto teor de gordura e colesterol, pode causar à saúde. Trata-se, no entanto, de um mito que precisa ser definitivamente esclarecido. Com a alta tecnologia de melhoramento genético e manejo, a carne suína oferecida, hoje, ao mercado atende aos anseios do consumidor com opções de carnes magras e com baixos teores de colesterol.
Expansão da Produção
Embora a maior parte dos produtores brasileiros ainda se encontre no sul do País, é visível o acelerado crescimento da suinocultura no Sudeste e Centro-Oeste. Tais regiões possuem grandes áreas, mercado consumidor crescente e facilidade de logística, além de serem grandes produtoras de milho e soja – principal matéria-prima para a produção. São fatores que permitem um cenário de crescimento constante para o setor, com capacidade para atender grande aumento de demanda nos próximos anos.
Ao contrário do que acontece na região Sul, essas regiões não apresentam saturação no sistema de integração. Cabe lembrar que o sistema de integração é aquele em que o produtor tem um contrato estabelecido com a agroindústria e fica obrigado a fornecer seu produto ao integrador. Com o crescimento da produção industrial, a tendência é esse sistema de integração prevalecer, cada vez mais, na cadeia de produção.
Dados como estes traçam um cenário promissor de crescimento para a cadeia produtiva da carne suína no Brasil.Os patamares de competitividade são altos, a produção apresenta qualidade, produtividade, custo competitivo, segurança sanitária e logística adequada devido à predominância de grandes agroindústrias no setor, sempre atentas à evolução, tendências e exigências dos consumidores.
A análise mais detalhada deste quadro sugere, no entanto, maior atenção ao mercado interno, que apresenta grande capacidade de aumento de demanda e representa um mercado mais seguro, sem reservas de mercado ou protecionismos impostos, muitas vezes injustificadamente, por países potenciais compradores do produto brasileiro.
Nesta hora, é preciso lembrar também que, embora os produtores sejam tecnicamente competitivos e eficientes, a oscilação de preços da matéria-prima usada na nutrição, responsável por 70% dos custos de produção, podem inviabilizar a produção e prejudicar as estimativas mais positivas.
* Cesar Bruneto – médico-veterinário, assessor técnico da Comissão Nacional de Aves e Suínos da CNA.