21 de março de 2013
Água combustível que move a humanidade
* Rubens Fernandes da Costa
A ideia de que o Brasil é abençoado por Deus e bonito por natureza faz parte do imaginário da população, acostumada à fartura e por isso mesmo dada ao desperdício. O país tem 12% da água potável do mundo, mas 80% dessa riqueza está concentrada na região amazônica, portanto, distante dos grandes centros. Os 20% restantes, abastecem 95% da população brasileira.
Assim como há luta pela terra, começam ocorrer no país conflitos, principalmente no setor rural, motivados pela disputa pela água. Além do desperdício, o Brasil cuida muito mal de suas riquezas naturais, poluindo-as e usando-as irracionalmente. E uma das consequências disso é que 70% dos leitos dos hospitais são ocupados por pessoas que contraem doenças transmitidas pela água. A ingestão de água contaminada é um dos maiores agentes causadores da mortalidade infantil.
O grande desafio da humanidade neste século será conviver com o aquecimento global e escassez de água, e isto implica em várias situações: o alto crescimento demográfico; desconformidade da distribuição da água; a alta concentração urbana; urbanização desordenada dos grandes centros; elevada poluição das águas e desperdício.
No Brasil, começam a ocorrer os primeiros sintomas do colapso no abastecimento de água. Os estados da Paraíba, Pernambuco e boa parte de São Paulo, já experimentaram o drama da falta de água. Em 1970, éramos 90 milhões e hoje já somos 190 milhões de habitantes. Um aumento de mais de 100% em 40 anos. E a quantidade de água é cada vez menor. A oferta de água diminui porque degradamos os recursos hídricos nos últimos 40 anos, de uma forma como nunca se viu antes.
Primeiro construímos nas várzeas dos rios, impermeabilizando tal área e depois, poluímos esta água com esgoto humano, industrial, com entulho jogado na beira dos córregos, com lixões sem nenhuma técnica. Sem contar o desmatamento, principalmente nas áreas de mananciais, nas nascentes. A Organização das Nações Unidas diz que precisamos de 2.500 metros cúbicos de água por habitante por ano para termos uma vida normal. Não só água para beber, mas para tudo o que a comunidade precisa. Abaixo de 1.500 metros cúbicos de água por habitante ano, é uma situação crítica. No Brasil temos dois estados abaixo desse nível, Paraíba e Pernambuco.
Qual a perspectiva do Brasil em conseguir evitar essa verdadeira tragédia? A população começa fazer sua parte, economizando água por conta do apagão. E agora temos que começar a cobrar a mesma economia de todos os grandes consumidores como: as indústrias, os grandes condomínios, shoppings e instituições do governo. Não é só uma atitude decorrente da economia na hora de ligar a máquina de lavar roupa e na duração do banho. É mais do que isso. Eu acredito que é o começo de um processo de conscientização da população em relação à urgência de economizar recursos que são finitos, como água e a energia.
* Rubens Fernandes da Costa é M.Sc em Produção Vegetal e Pesquisador da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba (EMEPA) em Alagoinha e presidente do Sindicato Rural de Guarabira.