6 de maio de 2011

Clima reduz produção de alimentos



Nos últimos 30 anos, a produção de milho e trigo diminuiu entre 3% e 5% por causa do aquecimento global, enquanto a produção de soja e arroz permaneceu estável, de acordo com estudo publicado na última edição da revista “Science”.

Segundo os autores do levantamento, a queda na produção pode ser responsável pelo aumento de 6% nos preços dos alimentos desde 1980, um salto de US$60 bilhões por ano no valor que os consumidores pagam pelos alimentos.

O pesquisador David Lobell e sua equipe da Universidade Stanford, em Nova York, examinaram o histórico de produção de alimentos e dados climáticos mundiais entre 1980 e 2008. Observando as quatro maiores commodities agrícolas — milho, trigo, arroz e soja, que, juntos, equivalem a 75% da energia de nossa dieta —, eles descobriram que a produção de milho e trigo diminuiu em resposta ao aquecimento global, enquanto a produção de soja e arroz permanecia estável em uma escala global.

Com o desenvolvimento de dois modelos principais, um que simulou um aumento real nas temperaturas e outro que manteve temperaturas climáticas “congeladas” em 1980 (enquanto todas as demais variáveis permaneceram as mesmas em ambos os modelos), a equipe revelou uma ligação entre a diminuição das culturas e o aquecimento global.

— Em muitos lugares vimos certas tendências de temperatura, e elas impactaram significativamente o crescimento da produção — explicou Wolfram Schlenker, da Universidade Columbia, que também participou do estudo. — Os rendimentos aumentaram, mas não tanto quanto poderíamos ter visto.

Produção dos EUA ainda não é afetada pela temperatura

Um dos números mais impressionantes é a redução na produção de trigo da Rússia — 15%, muito maior do que a média mundial, de 3,8%. Nos EUA, a situação é totalmente oposta. Segundo o estudo, o país não está ficando mais quente, e, por enquanto, escapa incólume das rápidas mudanças agrícolas vistas mundo afora.

— A agricultura como existe hoje é o resultado de 11 mil anos de evolução com um clima razoavelmente estável — lembra Lester Brown, presidente do Instituto de Políticas da Terra. — Mas este sistema, agora, não é mais o mesmo.
Os resultados da pesquisa mereceram a contestação de alguns pesquisadores, como Ken Cassman, professor de agronomia da Universidade de Nebraska:
— Não está claro como essas análises estão capturando a capacidade de resposta dos fazendeiros, se é que eles estão dando alguma resposta, a essas mudanças de temperatura — criticou.

O preço dos alimentos teve crescimento recorde este ano, aumentando a instabilidade de regiões do norte da África e Oriente Médio. Uma pesquisa recente, apresentada na Conferência do Clima de Cancún, no ano passado, previu que o aquecimento global poderia dobrar o preço de grãos até 2050 e engrossar em milhões o contingente de desnutridos.

Fonte: O Globo/CNA